Confissão em delírio

Visão nebulosa lutando por compreensão, por projeção correta das imagens, um sentido estonteado e perdido entre o delírio punindo o corpo caído ao solo escaldante. Mas de todas as vezes, este é o momento em que mais sua pele se destaca na multidão de cores e linhas que miro no embaço de meu lacrimejar.

Fora a sensação de flutuar e nunca se estabilizar em inércia. Fora o ligeiro vislumbre de uma vida resumida em alguns segundos. Fora o desespero escolhendo por mim em descuido as palavras direcionadas a ti. Minhas mãos gélidas suam, eu tenho medo, eu vejo tudo, eu não quero estar aqui, eu não vou lhe soltar não importa o que me diga ou me peça para meu próprio bem.

Enquanto os vultos se movimentam em padrões decorados, esvaio-me de forças e mergulho em sonolência como um último triz de meus instintos, sua voz me alcança mesmo que a poluição sonora me impeça de ouvir, e desfruto do otimismo que me fora presenteado como uma esperança intocável, imutável e crescente em mim como uma constante de sua fonte.

Você compartilha o calor que se concentra na palma de suas mãos, seus dedos passeando e descobrindo a aspereza de meu rosto pálido. Um sorriso dúbio, amargo e doloroso em tentativas falhas de ser verdadeiro. Sua presença me ajuda a esquecer, me permite refúgio em visitar todos os lugares que residem em nós.

Tremendo, grunhindo, espasmando. Não acredite mais nas minhas mentiras, não faça disso um acontecimento em que todos têm sua parte de culpa. Ecoam para mim os motivos que me trouxeram até aqui, em meu estado de podridão e decadência inevitável. Minhas pétalas repousam desprendidas no travesseiro. E de tudo o que não tive tempo de confessar sem o peso de futuro remorso, saiba de somente uma coisa que evitaria suas preocupações, meus arrependimentos, nossas circunstâncias e as linhas desta prosa: Eu estava errado.

Daniel Yukon
Enviado por Daniel Yukon em 05/04/2020
Código do texto: T6906993
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