O sentido é prometido

Foi no deserto, esta metáfora implacável de silêncio e solidão, entre o frio da noite e o calor do dia que me vi, esmiunçando-me, pausando-me, aromatizando-me em novas fragrâncias.

Desertando do que fui, desperto nesse novo amanhã, não mais sonhado, mas premeditado, planejado pela descoberta do que podemos colher a partir do que plantamos.

Foi em sensações, pensamentos e gestos, que me descobri consciência ampliada, olhando o mundo por outras lentes, de repente, janelas que se abriram para uma nova ordem, a possibilidade de humanidade.

O tempo não parou, e nesse espaço já não cabe o que fazia antes, foi então que olhei para alguns recantos em sépia, que estavam em mim. Foi quando aos poucos mudarem os tons na conjugação do verbo ressignificar.

No óleo da tela imaginária me desnudo em versos, lembrando-me dos amores adolescentes e da sensação quintessenciada de encontrar o amor idealizado, que afinal aconteceu. Sinto gratidão por tê-lo regado com todo o zelo, transformando-o na flor mais especial do meu deserto, àquela que pouco a pouco se recenseia amor universal.

Calmaria na poesia nascida da tempestade, na incredulidade que brota da verdade latente do íntimo. É como se ali houvessem outras de mim, as vezes reveladas das lembranças, ou quem sabe novos aspectos reverberados na vivência desta natureza mãe, desta natureza namorada, desta natureza saudosa de filha e não só.

Na humanidade o gesto solidário de erguer o outro ali fora, mas, na verdade, que está em mim, isso mesmo, descobri que o outro é uma extensão de mim, não mais há a separatividade do orgulho, do egoismo, desvendei, finalmente, o significado do SOMOS UM.

E de apelo em apelo me resgato como se fosse um protótipo do que serei na eternidade, mas que já estava ali, guardadinha entre segredos diáfanos prontos pra eclodir nesta primavera que já é ali.

Melhores dias virão deste inusitado, sol ardente, flores que desabrocham, aromas que descubro nos espaços que cotidianamente piso, agora totalmente descalça em meu coração.

Que esta eternidade seja tudo isso amanhã, o sentido é prometido e o prometido é devido..

©Clivânia Teixeira, domingo, 05.04.20 (quarentena)