"A morte da raposa"

Era uma velha raposa, que de tola nada tinha. Fingia manso, mas revelava em sagacidade toda a sua fome. Sorrateira, não perdoava presa nova, quanto menos a apetitosa velha ovelha: o bom caldo da senil é melhor, é mais experimentado, mais sovado e mais apetitoso.

Tinha no olhar a magia das feras: hipnose certeira e mortal. Não temia os inimigos, ocultava-os todos; ignorava os avisos e dissimulava o perigo, tudo teatro; mas que raposinha vigarista!

Num certo dia, destes que anunciam tragédias; estava a raposa –hipnótica- a espreita de um delicioso prato: uma semi-deusa ovelha, parecia um amontoado de algodão virgem, intacto, totalmente casto. Não esmiuçou, contra-atacou em um só golpe.

Mas a “ardilosa” ovelhinha, ressabida da velha raposa –que já cultuava fama de “devoradora” de animais indefesos- sobressaltou-se, conseguindo esvair-se das garras –nada afiadas- da medonha raposa.

Por fim, vendo que a raposa estava cansada e já desanimada, a ovelhinha mostrou-lhe a língua e pôs-se a rir do algoz. Deu-lhe as costas, como inibindo o perigo, arrebitou as ancas – de um animalzinho ainda em crescimento – e saltitou majestosa.

Envergonhada pela falha e percebendo que já não era mais a mesma raposa de antes, arremessou-se ao chão –já entregue ao combate- e dormiu um profundo sono: o da sua eterna morte enquanto “predador”.