Peditório

Queria converter-me aos templos

Pintar meu rosto em octarinos selos

Ir de fronte ao fim de todos os tempos

E dizer d'alma o que guardei nos seios

Queria despir-me ora que estou cansado

Abusar da virtude dadivosa

Doar a quem for o meu pequeno lado

Evidenciando-a: "Eis, minha glosa

E já que tudo isto não passa de desejo

Queria voltar a ser menino

Ter de novo com os seres franzinos

Mentir meus sentidos, nunca mais

Nunca mais ouvir daqueles sinos

Nunca mais ter a faca dos amigos

Nem sentar, no salão coberto,

Acolhido por gentis inimigos

E ter-me assim, contrafeito

"— Ah, só desta vez, afasta meu veneno

H Reis
Enviado por H Reis em 12/04/2020
Reeditado em 12/04/2020
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