(Sem título)

As vezes eu sinto que estou preso. Estou preso em algúm ciclo, que eu estou enchiqueirado... parece um curral. É um nó que não desata, sabe? Um vale que não é verde. O sabiá aqui não canta, nem o currupiu, e o galo de campina já faz tempo que não ouço. Mas o urubu... ah, aqui se farta. O encanto aqui é mentira, o pedaço de céu é nublado; e chove lama. Só a sombra daquela jurema que me vale. O sol que seca essa terra, é vermelho. A terra é vermelha, pois já derramaram sangue. A mata toda aqui é branca e vermelha. Nem a carnaúba que nasce desse chão se aproveita, e quase ninguém bebe da água desse rio. Ninguém está nem aí para o rio! Sabe, é como que faltasse alguma coisa... como que faltasse vontade. Parece que quem reina não é daqui. Aqui é onde o tempo vira noite, onde o amanhã ainda não chegou, e nem disse quando vai chegar. É para onde o luar olha tristonho, e o sol ilumina apenas por obrigação. Mas ainda é por onde eu caminho. E mesmo com espinhos, mantenho meu passo.

Nelson Bezerra