Insubstituível

Colhendo fragmentos reluzentes espalhados por cantos da mente, pintado-te como a fonte e a obra-prima de todo pensamento errante. Não se surpreenda ao perceber que ando vago por cada breve encontro, memória monumental e dia revisitado numa distância imensurável do hoje.

Confesso que fora deste passado arquitetado por presenças espontâneas e reflexos indefinidos que extraio força e razão para prosseguir nos passos lentos de minha constância. Pois nunca deve se dizer ao poeta para não sentir saudade das estrelas, para abdicar sua liberdade e encolher numa gaiola desprovida de inspiração para desenhar suas palavras.

No arrebol tingindo sua tonalidade pela casa, entrando em meu quarto e desencadeando uma tempestade e uma disputa entre todas as coisas que deixei não dito. Aturdido no infinito de possibilidades para confessar, para gritar até que os vizinhos reclamem, para destruir minha própria voz até que sanem os desejos do meu caos.

Porque o controle se perde no meio de esclarecer o interior, ligar as lâmpadas e os postes até que eu possa caminhar sem tropeçar nas curvas das ruas, nas beiradas dos tetos e nas paredes dos labirintos. E não seria menos que justo se eu descobrisse que você também se esconde nas dimensões deste enigma.

Empacado não perto do começo, mas inefavelmente longe do fim. Por você, à deriva de delírios e epifanias as quais perco o senso de significado, desaprendo a interpretar meu desespero desprovido de ti, e mesmo assim, jamais consideraria a desistência como uma alternativa.

Você é insubstituível, imune ao oblívio e impossível de se plagiar. E por você, valeria a pena não ser capaz de achar uma saída de tudo o que me assombra em tardes compartilhadas, frases inesquecíveis e sorrisos acriançados que somente você é capaz de evocar. Não te trocaria por qualquer condição existente em nossa moldada realidade.