Vida Alugada
Somos
os camponeses
da nossa vida alugada
mourejar de sol a sol
pelos afagos da enxada
Somos o trigo tombado
queimado no mês do verão
o bafo morno do gado
a riqueza de um patrão
Somos Outono e Inverno
o azeite a refinar
Este sol feito de inferno
os calos sempre a estoirar
Nos damos com o nosso sangue
essa cor do vinho tinto
a chuva que alaga a terra
saudades que às vezes sinto
Somos os que adoecem
a viverem num deserto
e que se vão desta vida
sem ter um médico por perto
Mas somos
os tais que dançam
nas festas ou romarias
em que a tristeza se esconde
afogada pela alegria
Somos o corpo já velho
dos afagos do arado
os camponeses da vida
a lavrar-mos este fado