A Maldade Está Nos Olhos de Quem Morre ou de Quem Mata?

Silêncio. Um reflexo no espelho mostra a face que não mais encaro.

Receio testificar o que me tornei. Confronto apenas, num relance, minha sombra que se projeta de retro à minha imagem.

Maniqueísmo severo!

Diminuto perante a homérica projeção, percebo – e reconheço – que o mau se engendrou. Engendrou sim.

Tão paulatina e venenosamente que putrefou-se-me liberando um miasma que arde nos olhos.

Nos meus – que não me olho. No teu, que me observa. No dele, que me julga.

Mortos não deveriam ter tanta maldade assim transparecida no refúgio das pupilas, não acha?

Medo, insanidade ou desejo?

Medo de mim, é provável; insanidade, por certo, diante da conturbada civilização demoníaca que se instaura dia após dia; desejo, talvez, de ser quem não permiti.

Há tanta maldade perceptível num olhar. Me julgo incapaz de encará-lo.

Arthur Dimitri
Enviado por Arthur Dimitri em 14/05/2020
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