Micróbio filho da puta

Compro a cerveja gelada,

mas não adianta

pois tenho que lavar a infortunada

com água e sabão.

Lavo,

e a pobre sai debaixo

da torneira

quase em temperatura ambiente

e o meu congelador, cansado,

meio deprimido, mas sempre eficaz,

refaz o glorioso trabalho.

Refaz o seu compromisso,

assim como um poeta

que precisa dizer todos os dias

algo bonitinho,

ou algo que todo mundo já sabe

mas não lembra,

não descobriu

ou não se importa mesmo.

Depois de lavar as latas

lavo as mãos,

lavo

lavo

lavo

e tome sabão

e lembro dos Titãs,

Castelo Rá Tim Bum, coisa e tal

e sorrio como o abestalhado que sou.

E tome água

e lavo mais.

Lavo tanto

que a pele das mãos descasca,

e penso:

Micróbio filho da puta!

O Bêbado
Enviado por O Bêbado em 26/05/2020
Reeditado em 26/05/2020
Código do texto: T6958896
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