Micróbio filho da puta
Compro a cerveja gelada,
mas não adianta
pois tenho que lavar a infortunada
com água e sabão.
Lavo,
e a pobre sai debaixo
da torneira
quase em temperatura ambiente
e o meu congelador, cansado,
meio deprimido, mas sempre eficaz,
refaz o glorioso trabalho.
Refaz o seu compromisso,
assim como um poeta
que precisa dizer todos os dias
algo bonitinho,
ou algo que todo mundo já sabe
mas não lembra,
não descobriu
ou não se importa mesmo.
Depois de lavar as latas
lavo as mãos,
lavo
lavo
lavo
e tome sabão
e lembro dos Titãs,
Castelo Rá Tim Bum, coisa e tal
e sorrio como o abestalhado que sou.
E tome água
e lavo mais.
Lavo tanto
que a pele das mãos descasca,
e penso:
Micróbio filho da puta!