Onde as consequências nos trouxeram

Reconheço a falta dos dias hospedados em despreocupação sutil e destemor nas maneiras em que consumíamos as horas de cada momento. Em campo aberto, correndo e tropeçando em direções improvisadas até alcançar o conforto conquistado em alguma destinação inesperada. Lembre-se que também sei como é mudar tão repentinamente.

Palpando a essência de toques passados, a procura de rebobinar as cenas para analisar os segundos e dissecar os fragmentos de diálogos que teceram as antecipações ansiosas dos pensamentos. Sua fantasia permanece doce e convidativa, mesmo que refutada por incontáveis fatos alegados pela realidade.

Pois agora as memórias ecoam da distância temporal em que vieram, alcançam o presente com um sussurro desencadeador de verdades desenterradas, partes irresolutas e planos esquecidos no ápice de uma vida esboçada numa inocência adolescente. Amadurece em podridão a florescência dos nossos anos pela senescência impregnada em nossas pétalas.

Fatigada a espera por algo ou alguém dilacerar os padrões de nossa estática, para quebrar o molde que esculpimos num desejo de nos privar de qualquer liberdade. Colhendo a esperança de algo surreal alterar a rota que seguimos em passos traiçoeiros, intuições falhas e certezas improváveis. Deslumbrante ficção nos segurando em seus braços maternos e nos nutrindo belas mentiras.

Permanece o mesmo vento dançante a nos atiçar imprevisibilidade, as mesmas tardes tempestuosas em que extraímos empatia, as mesmas ondas decidindo por nós as turbulências e profundidades dos mares que estaremos submersos numa luta para nos desprendermos da correnteza. Nossas estações ainda continuam num ciclo interminável em nossos seres inacabados.

Estes limites cruzados e tempos excedidos, uma naturalidade nos despindo de forças e palavras, acalmando-nos a conformar sem relutar. Corpos fracos e empalecidos, divagando desamparados por resquícios de realizações, razões ainda intactas que tragam cintilância de volta aos dias do inconstante agora. Aqui, onde as consequências de viver de olhos vendados nos trouxeram, nos concebeu uma concreta cegueira, nos impede de enxergar para onde iremos, nos deixam em ilusão que algo incrível e propositado virá após o fim súbito e incompleto.