Sobre infância e saudades


 
Eu sei que é junho, esse relógio lento
Esse punhal de lesma, esse ponteiro,
Esse morcego em volta do candeeiro
E o chumbo de um velho pensamento
 
                  Alceu  e Geraldo Valença



     Eu sei que é junho. E por isso essa saudade das traquinices e meninices no mês mais festeiro e bonito do ano, pois além de mim, minha irmã Margarida e meu irmão Marcelo aniversariam nele, respectivamente no 13, 15 e 28.
      E por isso essa saudade do nosso pai providenciando a fogueira, os estalinhos, as chuvinhas e os foguetes que só ele soltava. E nossa mãe fazendo café, cuscuz, canjica, pamonhas, pipocas e cozinhando milho. E a gente correndo em volta da casa com um vira-lata nos calcanhares. E a gente esperando a fogueira virar braseiro, para assar o milho e quase queimar a língua, na pressa de comer .  
    Eu sei que é junho e a nossa velha casa, que presenciou tantos momentos felizes, nos espera.



P. S.   Fiz esse texto  em junho de 2017, para umas fotos que postei numa rede social. Revendo, deu-me uma saudade desses lembranças de infância! Nosso pai já não estava mais entre nós e, agora em 2020, não teremos festejos. Nove irmãos e irmãs juntos, com suas famílias, ao lado de nossa mãe. As lembranças alimentam minha saudade. Eu sei que será um junho dos mais difíceis que já vivemos mas estaremos juntos em saudade e esperança, que míngua, mas não morre.