BOCA MORTA

Nem opaca nem cor de choro

Minha alma rende aos despautérios

Exala em coro, peste vomitada

[gosto de enxofre, cheiro de nada].

No calo peristáltico inda repugnante

A fotografia do avesso, a lenda

Outubro é um mês infame

Tem o traço forte dos trimestres cegos.

Ouço o dobrar do obcônico:

Belém!

Mais resina em minha boca morta

Sobra purpurina em meu féretro pálido

[já não conheço o espelho].

Nave-mãe entreaberta na cova pecaminosa

Sombra horrorosa de natal e de gelo

Oferecendo a gangrena ao meu arcabouço

Secretando a linfa pútrida em meu soluço.

Eis que escuto o depenar das cinzas do descanso

Morteiros atrapalham o sono do meu ranço

E me estuporam com o pó deste biênio azedo

Nada mais posso revelar; ei-la, boca morta.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 18/10/2007
Reeditado em 23/04/2008
Código do texto: T700183
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