BOCA MORTA
Nem opaca nem cor de choro
Minha alma rende aos despautérios
Exala em coro, peste vomitada
[gosto de enxofre, cheiro de nada].
No calo peristáltico inda repugnante
A fotografia do avesso, a lenda
Outubro é um mês infame
Tem o traço forte dos trimestres cegos.
Ouço o dobrar do obcônico:
Belém!
Mais resina em minha boca morta
Sobra purpurina em meu féretro pálido
[já não conheço o espelho].
Nave-mãe entreaberta na cova pecaminosa
Sombra horrorosa de natal e de gelo
Oferecendo a gangrena ao meu arcabouço
Secretando a linfa pútrida em meu soluço.
Eis que escuto o depenar das cinzas do descanso
Morteiros atrapalham o sono do meu ranço
E me estuporam com o pó deste biênio azedo
Nada mais posso revelar; ei-la, boca morta.