Laurear o Penvide

Sublimar o insublimavel. O ser humano, na sua falta insuperável, solitário homem ou mulher. E por esta falta recorrente e gostosa de sentir, ele deseja. 

Deseja o que vê, e o que não vê. E neste desejar se socorre, na sublimação. A ver o seu amor passar, a pensar como seria se este amor tomasse corpo e alma. Ah que magnitude teria o indelével momento. Isto seria laurear o pevide? O que poderia ser isto? 

Talvez dar uma caprichada no corpo. Talvez interagir mais com este corpo, que nos trama e liberta. Atrelado a alma sempre indefinida, sempre nos lembrando o que não somos, sendo. 

A consciência de que somos um rebanho de condenados, porque tudo que é vivo morre, entretanto na simplicidade desta vida, pode encontrar momentos imortais. Talvez esta alma exista para nos lembrar que somos seres espirituais e por isto mesmo nos lembrar que a alma ligada ao corpo, pode se distanciar da espiritualidade. No abstrato. Como se a alma já não fosse abstrata demais. 

Laurear o penvide pode ser dar um trato nesta semente que é o nosso corpo. Por que? Porque às vezes temos que pensar o bem que podemos fazer ao nosso corpo. Elegê-lo por algum tempo alvo de felicidade, cuidando-o, contemplando-o, venerando-o, dando-lhe um aconchego. Isto todavia requer distanciamento da vaidade, pois em si, esta não tem valor é vazia. 

Assim quando nos divertimos estamos a laurear o pevide, ou seja cuidando da nossa semente. Elegendo-a alvo de nossa eternidade na terra. Elevando o pensamento ( alma) através dos nossos ancestrais e descendentes. Estamos em última análise entre a transitoriedade e a eternidade do ser. 

Estes componentes nos conduzem a espiritualidade, considerando este conflito sem tréguas entre corpo e alma. 
Sim é preciso laurear o penvide. 
Deixar por instantes a consciência de sermos o que somos e ao mesmo tempo não ser nada. Um nadinha num universo tão complexo, e grande, quiçá infinito, que nos deixa sempre a querer descobrir-nos a cada dia, céticos que estamos sempre a questionar tudo. Aqueles que têm certezas demais, crenças demais, não tem tempo para laurear o penvide. Porque o dado, o estabelecido, já preenche seu ceticismo e não sobra espaço para uma revisão mais apurada de si. 

É bom nos sentirmos livres de vez em quando. É bom descobrirmos que somos mortais, finitos e ao mesmo tempo, tendo espaço para nossa imortalidade. Sim porque a nossa eternidade habita em pequenos espaços nossos, em circunstâncias nossas e faz o elo que nos transporta num clímax de sossego, de aconchego, a saber que o infinito particular de cada um, tem seus momentos de êxtase. 

E no êxtase nos completamos por um tempo suficiente para renascermos a cada evento. E depois de cada evento nos sentimos completos, sempre  aptos a reiniciar o nosso infinito interior que nunca termina. 

Eu heim, nem sabia que era tão bom laurear o penvide.

In: ‘Laurear o Penvide’ Prosa de Ibernise. 
Fotografia: Ibernise. Localidades: Arcozelo,Barcelos. 
Barcelos (PT), 20/07/2018. 

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Ibernise
Enviado por Ibernise em 17/07/2020
Código do texto: T7008736
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