Termina com um estrondo

Pigmentação alternando tonalidade nos raios atingindo as cercas, evidenciando o que está coberto e ocultado por neblina matinal e em timidez debilitante. Dedos pálidos em encontro com a ardência do calor, a maciez desencadeando familiaridade no tato introvertido de mãos desacostumadas aos toques de uma solidária empatia.

Em minha vertigem, sobrevoando meu vislumbre e camuflando-se entre outras coisas que clamam por atenção que me falta. Em cada dia, em cada página, em cada registro, contornando minha normalidade à estranheza trazida ao ver que os móveis estão deslocados centímetros de seu devido lugar. O que foi isso? Para o que foi aquilo?

Encarando por mais segundos que o ordinário me acostumou, estudando os espaços vazios e adotando uma rima visual aos arredores. Árvores farfalhadas pelos últimos sopros de julho, colidindo a brisa em minha pele e confortando meu corpo cálido em temperaturas inconstantes e pulsações desenfreadas. Os tambores emitem um ritmo maior do que emitiram ontem.

Esculpe-me num molde adequado, transmute-me em duradouro mármore e cause fascínio como conciliações à sua pena pressentindo a aridez dos meus lábios rachados. Feche as janelas, prenda as cortinas, desative o alarme, jogue fora o calendário e acentue sua presença com mais promessas de uma supérflua permanência. Eu posso me contentar com menos que o mínimo.

Rodopiando centros efêmeros, estonteando-me em padrões, enlouquecendo-me pelos espirais tecidos e distâncias percorridas. Eu não quero perseguir os passos da rotina, conformar-me em neutro equilíbrio e expressar que minhas emoções são árduas complicações que necessitam mais esforços das minhas dedicações. Hoje eu farei com que isso acabe de uma vez por todas.

Pois realmente não importam os conselhos que recebo, os planos que arquiteto, as distrações que me entretém, as estratégias que me guiam e nem mesmo as orações que suplico. O poço está contaminado, a infecção se espalhou da primeira gota até o último litro de toda a água. Trazer de volta sua pureza é evaporar todos os traços de sua existência. Eu não deixarei sua sede esperando. Desculpe-me por tudo. Eu te amo.

Daniel Yukon
Enviado por Daniel Yukon em 25/07/2020
Código do texto: T7015963
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.