uns e outros

Alguns conhecidos  morreram de morte morrida; outros de morte matada;
Uns se perderam no caminho sem nem saber qual era a estrada;
Outros eram galinha, achando-se pavão;
Uns morreram afogados, outros de sequidão;
Outros se tornaram príncipes de si mesmo;
Outros foram entregando-se ao tempo;
Alguns foram lançados ao relento;
Outros mergulharam na solidão;
Alguns de ação arrombaram os cofres de fuzil na mão e acabaram num rabecão;
Alguns morreram de cirrose;
Outros de leptospirose;
Outros viraram pastor de igrejas da último hora;
Uns a pensar que ainda era dia, outros sem perceber a escuridão;
Muitos se tornaram idiotas;
outros se empanturraram de idiossincrasias;
uns recobraram a razão;
Outros se iludiram num dia e noutro amargaram a desilusão;
Alguns foram pro Curdistão;
Outros a esmo, uns a ermo;
Uns viam apenas o que o olho alcança;
Uns olharam apenas para o umbigo;
Outros eram a cara do partido, pregavam a revolução;
Outros falavam num mundo melhor para todos, acabaram melhorando a si mesmos;
Uns se tornaram invisíveis, perderam-se na multidão;
Uns não suportaram o peso da existência, deram cabo a si mesmos;
Outros se tornaram doutores em temas irrelevantes;
Uns caíram na loucura e viraram ermitão;
Ninguém foi águia;
Nenhum foi perdão;
Uns fizeram fortuna, muitos sem um vintém;
Outros foram para o Azerbaijão;
Uns se perderam na África e nem chegaram a Tanger ou Zanzibar;
Outros morreram de febre amarela em Nagorno-karabakh;
Uns se tornaram alguém, outros Zé ninguém.

 
Labareda
Enviado por Labareda em 20/10/2007
Reeditado em 15/06/2014
Código do texto: T701835
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