Palavras, apenas

Não me diga palavras, apenas, como aquela canção de amor.

A duras penas (leves penas), leve aquela canção contigo para lembrar-se de um sentimento antigo, de verbetes retrógrados, de termos ultrapassados, de um vocabulário em desuso. De um amor em desuso. Palavras, apenas, são como olhares, apenas, ou como gestos, apenas, ou como o silêncio - apenas. As penas são extensões de um ser alado por dentro. Meu corpo jurou te pertencer, mas as palavras quebraram minha promessa. Meu coração nada disse sobre o assunto. E teve aquela que se fez mil perguntas e não obteve mil respostas, e sofreu por insatisfação plena. Ah... pena! Apenas palavras nunca poderiam explicar este texto que estás lendo. Tem de haver muito mais, reaver o troco, espalhar o crédito, repetir a dose, plagiar o inédito, esquecer a artrose do esqueleto da frase que estou escrevendo. Palavras rapinas... Palavras aspermas... Palavra-aspirina... Palavras dispersas... Não me diga palavras pequenas. Tamanho não é documento, não é dicionário, não é sentimento. Amor é sentimento, é glossário de qualquer termo, identidade do tempo. Palavras são apenas palavras, por fora; milhões de palavras, por dentro.

23 de agosto de 2005

Teco Sodré
Enviado por Teco Sodré em 11/11/2005
Reeditado em 21/01/2012
Código do texto: T70212
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