Vivendo e aprendendo
Eu andei por veredas onde o sol jamais penetrou, caminhei descalço sobre pedras e espinhos, resquícios de mágoas e dores, triste sina de faquir.
Eu já fui ao Hades,negociei com Caronte e enganei Cérbero.
Já atravessei desertos sem encontrar oásis,caminhei à noite sem luar,enfrentei tempestades e nadei contra correntezas.
Já habitei palácios com tetos de cristal e casebres sem teto, quebrei e colei corações, destruí castelos e construí cabanas.
Já fui mar e rochedo, tronco e folha , já troquei de cor, forma e atitude.
Já errei,aprendi,tornei a errar, insisti e só então compreendi que viver é consertar quantas vezes forem necessárias nossas posturas e ações.
Já perdoei, me perdoei,magoei e me magoei, até para não magoar outros, já me dissolvi apenas para me moldar diferente.
Já me conheci,me questionei, me desentendi e desisti.
Já amei,desamei,rezei e blasfemei, fiz de tudo no universo onde, mesmo que às vezes inconsciente, reino soberano.
Aprendi,ensinei,decorei,entendi e esqueci.
Conheci todas as cores e matizes, as palavras , seu poder e suas derivações, vi surgir todas as suas variações e deturpações.
Aprendi com as flores a efemeridade do brilho, a necessidade da maturação e que aprisionar o belo é matá-lo lentamente.
Aprendi com o mar a necessidade das mudanças e das marés, com o vento a disseminar minha voz e minhas idéias e a arrastar o que impede minha passagem.
Aprendi que muitas sombras são penumbra por opção, não adianta forçá-las a vislumbrar a luz e com o silêncio, que só nele, é que paramos para escutar o que nos é essencial.
Aprendi muitas coisas, mas só você é que me ensinou a amar.
A me amar, a te amar.