Paixões (ou Amores apócrifos)
Foi um capricho do Destino
Um fugaz vislumbre
Um quarto pequeno e simétrico
Travesseiros soltos e lençóis febris
O que vislumbrava nos seus olhos
Destruía minhas defesas e me fazia apaixonar
Não era para ser
não podia deixar de estar
Por mais que a madrugada galopasse
Eu não controlava meus desejos
era mais forte que eu, estava além de mim
Era perfeito demais para ser errado.
A decisão ultrapassava minhas forças
Se saísse , deixaria minha alma
Trairia meus desejos
romperia com meu coração
Seria um zumbi a vagar por ruas vazias
Ficando , me embrenharia mais no labirinto
Afastando-me de vez da saída
Me perderia entre venturas e loucuras
Irremediavelmente distante da razão.
A luz do amanhecer decidiu por mim
Roupas amassadas e atrasos não foram um final adequado
sorrisos sem graça e silêncio eram o prenúncio do fim
Não aconteceu sequer uma troca de olhar, a sentença estava dada.
Foi efêmero e profundo.
Nada restou além de palavras soltas e desconexas
numa folha amorfa perdida numa poça qualquer
Uma vida, uma história em um encontro ...
Não houve uma segunda vez
o laço se rompeu
Como toda grande paixão foi chama
E queimou tanto que só restaram cinzas
O quarto simétrico e impessoal
já tem outras presenças
outros cheiros, outros fluidos
outras juras vazias ...
Novas folhas são arrancadas do livro do destino
e atiradas ao vento caem em outra poça
São levadas pelo esgoto do medo e da solidão
E desembocam apócrifas no mar do esquecimento.