amor e flor

Não rimo amor com flor;
Não sigo a métrica (quando escrevo não me importo se é soneto, sextilha, ou outra combinação qualquer);
Não sou portador de boas-novas;
Não sou poeta de salão, nem sei sinceramente se sou poeta;
Não sou parnasiano; nem simbolista, nem romântico nem moderno;
Nem tão pouco dadaísta, surrealista ou concreto;
Evito os deslumbrados, corro dos esperançosos, não tenho nenhuma ilusão sobre os homens, não acredito numa compensação divina e nem terrena;
O que escrevo não é dirigido aos desavisados;
Dizer que sou poeta? Porque junto palavras, não ouso;
Tenho gosto por falar de coisas feéricas; busco novas veredas (re) imaginar o real, reinventá-lo;
Senão a prosa fica água com açúcar; vinho velho em odres novos;
Desencardir palavras, lançar sentidos;
Como uma imagem num espelho côncavo ou convexo;
O meu tema é o mistério que se desnuda a cada alumbramento, a palavra é meu apetrecho, navalha, lança, arcabuz;
Entedia-me a poesia romântica ainda em moda; que toma apenas o objeto do amor como único e último ponto de chegada e de partida;
A minha obsessão é a linguagem como meio quente;
Não sou um sentimentalista, comunico sentimentos;
Não me interessa o rebuscamento poético;
E se me dizem poeta do desencanto, e se ainda me consentem; 
rimo  amor com flor; 
Falo da flor com dor e do amor ausente;

 
Labareda
Enviado por Labareda em 21/10/2007
Reeditado em 04/01/2017
Código do texto: T703547
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