OUSADIA DE VIVER

De súbito, acordo durante a madrugada com o som gritante do alarme de um carro. Penetrando pelos meus tímpanos, aquele agudo repetitivo atinge rapidamente meu coração que agora bate em disparada como um cavalo assustado. Afoito, ouço também os alarmes que soam dentro de mim, as sirenes que finjo não escutar durante o dia e as urgências que preciso dar voz.

Uma sensação de medo me gela da cabeça aos pés. Sou tomado por uma vontade de correr pelas ruas nesta madrugada fria, para ver se assim aqueço minha coragem. Me escondo entre os edredons que me protegem dos monstros imaginários e do frio da noite. Durante o dia, me escondo entre sorrisos, conversas, metas e planos.

Tento ignorar aquele alarme externo que tanto incomoda e me impede de dormir (e sonhar). Sinto falta do silêncio noturno que não se encontra durante o dia. Corro o tempo todo, focado nas demandas externas, achando balela e, por vezes, piegas a tentativa ouvir as vozes que cantam dentro de mim. A cabeça gira, não no sentido literal, os pensamentos vão a mil por hora, as lembranças passam por mim como um filme que deixa saudade e, o ato de pensar no futuro, me assusta.

Da mesma forma que veio, subitamente o alarme para de tocar. Provavelmente foi desarmado pelo dono do carro ou, talvez, eu tenha presenciado um furto noturno com meus ouvidos. De toda forma, isso não me importa! O que importa mesmo é que, se eu quiser dormir em paz, preciso atender aos gritos dos alarmes que soam dentro de mim enquanto meus sonhos alimentam minha ousadia de viver!

Diego Dias
Enviado por Diego Dias em 17/08/2020
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