Lentamente
Você foi partindo aos poucos, como belos cantos que definham até soarem roucos.
Foi sumindo feito fumaça, tal nuvem, cada vez mais esparsa, que uma hora passa, deixando vazio o banco da nossa praça.
Foi desaparecendo, a princípio discretamente, lentamente, até que já não a visse novamente.
Eu não dei atenção aos sinais, aos carinhos cada vez mais desiguais, ao olhar lá no horizonte na beira do cais.
A troca de mensagens cada vez mais discreta, a nossa porta, paulatinamente menos aberta, a cada inesperada descoberta, ao disparo ainda que leve do bip de alerta.
Os pensamentos não mais se completavam, as ideias não se encaixavam, os projetos e planos quase imperceptivelmente naufragavam.
O final lento, agonizante, dói e magoa mais que o abrupto, feito em um instante, onde a dor é rápida e excruciante mas logo começa a ficar distante.
O fio cada vez mais esticado até se romper, era só questão de tempo acontecer, só não via quem não não queria perceber.