ATIREM A PRIMEIRA PEDRA E ATIRO A PRIMEIRA FLOR.

Quando nos calamos, a omissão é tão indigna quanto a acusação.

Poderíamos nos perguntar: E se? Se fosse comigo, com a minha filha, com a minha neta, com a minha sobrinha, com alguém muito querido da minha família? Estaríamos cuidando da sua/nossa dor, estaríamos determinados a encontrar a justiça e , de alguma forma, minimizar o sofrimento dessa criança. Mas, a dor alheia não nos dói tanto. E, muitas vezes por mais que não admitamos, pensamos exatamente assim. De forma simplório e egoísta: _ e eu com isso?

Admiro a literatura e gosto dos personagens que não são humanos e que de alguma forma nos falam de humanidade, aquela humanidade que nem sempre vemos no outrem ou em nós. No livro O mágico de Oz, o homem de lata tem um único desejo, possuir coração para sentir. Amo esse homem de lata. Percebo nele mais humanidade e mais coração do que nesses que agora, dedo em riste crucificam uma menina de dez anos violentada pelo tio, pelo avô e pelo irmão. Como não querer ter um coração e sentir a dor dessa pequena?

É preciso sentir o outro para sentir a si mesmo.

Quem somos nós para julgar, quem calçou o sapato, uma vez que fosse, o sapato dessa criança ultrajada? Claro que o sapato é uma metáfora. Fala-se tanto em empatia. Onde está e empatia nessa hora? Fingimos que uma criança ser abortada por outra criança é o primeiro e o último pecado do século. Estamos nos focando em que mesmo? Em pecado? Me poupe! Temos piores! E o que fizeram e estão fazendo com essa menina foi o quê? Que adjetivo poderemos buscar nos dicionários para definir esse ato? Maldade, crueldade, repulsa, deformidade, algo pavoroso e hediondo. Imoralidade! Ato que nos causa horror só de pensar. Lembrando, que nenhuma vítima gosta de ser estuprada. É lamentável alguém imaginar que essa criança ( ou qualquer pessoa) poderia ter sentido prazer em ser usada, violada, violentada, ultrajada. Atitude mesquinha e tosca, horrível, maldosa e hedionda de um adulto que, em momento nenhum pensou sobre o medo, o pavor, o horror que essa menina sentia. Pensar assim não é humano não é de Deus. Mas... pensar assim é privilégio de muitos, não nos enganemos. Dos tanto que usam máscaras, não por conta do Corona Vírus, usam máscaras porque não tem outra forma de esconder a sua obscuridade, a sua falta de honradez. E fingem não ver, não saber. A síndrome do avestruz em voga.

E se abortar então for o melhor caminho? Então, não sabemos que existem várias formas de interromper vidas? Quem financeiramente pode, faz! E faz na segurança das clínicas e, na maioria das vezes, no anonimato. Para essas que fazem lhes são permitidas escolhas e possibilidades. Afinal, um filho às vezes atrapalha, se é indesejado, mancha a reputação e envergonha a linhagem. Mas tudo bem! Aos filhos do rei, sempre os melhores manjares. Existem também aqueles realizados em estabelecimentos clandestinos, perigosos, onde mulheres se põem em risco e às vezes morrem. Interromper vidas?! Esse é o foco? A ninguém é dado esse direito. Concordo! Diariamente o direito de interromper vidas é, escancaradamente violentado . Inclusive a vida de crianças e jovens. Não, não é fake news. É fato! Basta ler notícias sérias e não acompanhar fofocas ou assuntos falsamente preparados para alienar as pessoas. São cristãos mortos, são futuros gênios ( ou não) com vidas ceifadas. Àqueles que levantam bandeira de que o aborto pode estar assassinando um gênio, aviso: a miséria também pode, a bala perdida, idem. Esqueceram a mortalidade infantil, a falta de moradia, a fome, a violência e tantas misérias que levam nossas crianças na mais tenra idade? Qual a diferença mesmo? Fazer um aborto é assassinato? Deixar que essas misérias matem, não é? Não sou contra ou a favor do aborto, há controvérsias e tudo depende. Corpo de mulher só pertence a ela. Aliás, o corpo de qualquer pessoa, só pertence a essa pessoa. E nada nem ninguém pode se arvorar de seu dono e violá-lo.

Quanta crueldade com uma criança, que se tivesse tido a chance, nos responderia: - quero apenas viver a infância que me foi roubada.

Desprezíveis! Todos que a estupraram.

Desprezíveis! Todos e todas que a acusaram.

Então, seria um prazer ser violentada? Quem ousou ser tão cruel, sequer ousou pensar no que poderia estar sentindo uma garotinha ao ser vítima de tamanha monstruosidade. A infância lhe foi roubada de forma vil, tirando todas as chances e os sonhos de fadas, bonecas e do Faz de Conta. Não teve super herói para salvá-la; não lhe foi dado super poderes para afastar o monstro; sequer teve um caçador para matar o lobo mau e nenhum pó de pirlimpimpim que a levasse para a Terra do Nunca. Não podemos chamar de louca uma pessoa tã destituída de piedade, é uma pessoa simplesmente má . E as pessoas más não entendem de sonhos, nada entendem sobre a beleza que há e talvez, jamais tenha existido um serzinho cheio de sonhos e invencionices habitando nelas. As pessoas más nada entendem de coração e de empatia, a elas apenas lhe é dada a capacidade de provocar medo e repulsa. Elas não ousam ser humanas, porque os monstros não têm humanidade. São só monstros. Simples assim.

A Internet, essa maravilhosa ferramenta, tornou-se terra de ninguém, onde a selvageria e o suposto anonimato, possibilitam que algozes, juízes e fariseus, incapazes de uma bondade achincalhem quem eles bem desejarem. Pessoas (será que são pessoas?), indivíduos que usam a religião e a bíblia como amuleto para ratificar suas inverdades. A espiritualidade anda na contramão dessa pregação que aí está . A bíblia não respalda, nem ancora essa crueldade. Deus me livre de gente assim, Deus nos livre desse puritanismo e dessa mesquinhez.

Prostrar os joelhos ao chão e clamar aos céus, nunca serão atitudes divinas quando ancoradas em atitudes vis. Mãos abarrotadas da dureza, mãos calcárias e cheias de pedregulhos, atiram, metralham, massacram , levantam bandeiras sem nenhum sentimento de cristandade. Mãos vazias de solidariedade e de compaixão jamais se juntarão em oração. Isso não é digno de um cristão. E não contentes com o que são, com o que pensam e pregam, atiram suas pedras. Atiram, atiram, atiram. Estilingues com palavras e olhares dardejados para ferir. Escandalosamente ferinos. Mas temos os humildemente silenciosos, os omissos, os que tanto faz, os Pôncios Pilatos que lavam as mãos e as enxugam em toalhas felpudas e esterilizadas. A esses de mãos limpas, enxaguadas, alvejadas: o seu silêncio mata, tanto quanto os berros que sentenciam a morte da infância. Cotidianamente você condenam Cristo . Bíblia, embaixo do braço, joelhos no chão e mãos em oração, muitos cometem abortos, todos os dias. O mais ignóbil deles. Abortam sonhos que não lhes pertencem.

Atirem sim a primeira pedra, eu atiro, sim a primeira flor

Fátima Mota