A METÁFORA DE HOJE

Hoje, ocorreu-me uma nova metáfora.

E não lhe resistindo o pedido de publicidade,

eis que o faço, mesmo que piegas e redundante,

porém inevitável, pelo menos hoje:

A espinhosa flor do amor, daquele amor

que decorre de uma paixão verdadeiramente profunda, sangra...

Sangra, no exato momento em que duas pétalas juntas, em uma mesma flor, se desgrudam,

se descolam ou se uma delas ou ambas são despedaçadas de alguma forma.

Mas, mesmo sangrando, ela parece saber que não deixará nunca de ser a flor do amor,

e o tempo lhe cicatrizará, conforme seja o tamanho da hemorragia.

E é exatamente por despencarem da flor do amor,

que aquelas duas pétalas poderão fertilizar outros solos,

reaparecerem, juntas ou não, em outras espécies de flores

ou, simplesmente, serem lançadas ao vento,

rumo aos mistérios de uma terra de onde nada se sabe.

Mas permanecerá a flor, em sua essência, independente das pétalas que caíram,

assumindo a sua condição metamorfoseante de logo se fazer um novo botão

que na ironia cósmica da vida fará gerar outras flores que abrigarão outras pétalas,

em um processo cíclico de viver e amar, apesar da certeza dos espinhos.

Porém, sabe essa flor que para renascer

precisará ser sepultada em algum jardim por aí,

a fim de que o orvalho ou o temporal de lágrimas

que banham as duas pétalas caídas não se desperdicem

no mero pranto inevitável, mas que venham a lhe regar

a esperança de fazer brotar a graça posterior do ressurgimento,

que bem poderá ser a recompensa a se estampar

no sorriso de algum jardineiro vagante.

Afinal, a primavera ainda está por aí. Quem sabe, haverá tempo...

josealdyr@gmail.com