Atestado de óbito.

Andei pensando muito. Em infinitas coisas das quais eu adoraria simplesmente ter uma resposta pronta. Se Deus veio primeiro, quem criou Deus? Porque precisamos necessariamente ser finitos? Pra onde vamos quando tudo acaba? Afinal, existe jeito certo de servir arroz e feijão no prato? E se as estrelas forem mesmo nossos avós, olhando por nós?

Porque relações acabam mesmo quando ainda existe amor?

O amor é um sentimento muito complexo. Ou talvez, a situação em que o colocamos que seja. Escoramos muita expectativa nesse pequeno incomodo amoroso, e ele tem que carregar certos fardos que nem o compete. Por exemplo, quando a outra pessoa só foi... incompetente. Choices.

É engraçado quando ele aparece. Meio de fininho. Silencioso. E num susto! (...) não temos mais controle da situação. Só se fala dele. Só ele. Queremos ver. ter. fazer. Não existe fome, nem sede. Hora do banho, hora de dormir. As músicas tem novos significados, e de repente, ela até se encaixa perfeitamente. Quem poderia imaginar?

Mas hoje, acho estranhamente proporcional, à forma como ele vai embora. Repentino. quase sempre, sem salvação. Um dia você acorda e ele tirou férias. Ah! Pare de bobeira, é só uma fase. E ao decorrer dos dias, as férias não acabam. Onde esse tal de amor se enfiou, hein? Preciso dele de volta, já! E no fim das contas, as férias eram um atestado de óbito. Tanto, que o processo do fim, carinhosamente chamamos de "viver o luto".

E, sendo cruelmente sincera, é assim que me sinto. Quanto mais perto estamos, mais distante e desconexa eu me sinto. Não tem mais aconchego no seu abraço. Nem calor no seu beijo. Seu toque não me acorda. Não sinto falta de nossos papos, e não me julgue... quase nunca me conta da sua vida mesmo, e falar só de mim mesma, é um porre. Há coisas que você precisa aprender, e que eu já não sei mais ensinar. Há coisas que eu preciso aprender.

Matematicamente falando, positivo com positivo, resulta em negativo. E eu estou completamente, negativada. Dizer que não senti amor, é ilusão. A mesma em que eu nos imagino dois juntos, realizando nossos sonhos... E esse é um defeito no conceito de amar alguém, dependência. Compulsão a repetição de que "amanhã, vamos dar certo", “amanhã, tudo vai se resolver” “amanhã, trataremos disso”. Parece que amanhã, é outra ilusão. Que caos, não?

Quando você desperta que está no olho do furacão, é péssimo. Não tem remédio que cure “fins” na farmácia. Não tem formas de fazer as coisas serem mais confortáveis. Não há combinação de palavras que expressem fielmente. E, correr atrás do prejuízo, é uma proposta tentadora. Tenta-se exaustivamente. É quase como um truque de mágica. Talvez, em algum momento, alguma coisa, surta efeito. E eu tentei, eu juro. Fazer. Falar. Sem êxito.

Não é falta de sentimento. Não é falta de dinheiro. Não é. Há mistérios, que ainda não tivemos intelecto o suficiente para compreender, ou explicar. Aconteceu. Um histórico de acontecimentos que motivaram, e incentivou o que eu chamo de “desencanto”. Desencantei.

Me despeço todos os dias. Quando não estou tão presente. Quando ignoro certos conteúdos de nossas conversas. Quando escolho, não ir te ver, mesmo podendo. Quando sinto súbita vontade de escrever, e não é sobre você. Ou talvez, quando as músicas deixaram de fazer sentido, ou fizeram.

Amar você é um sonho, e eu, acordei.

Talvez, o escritor de nossa história seja Shakespeare.

Para todos os efeitos, obrigada!

Com amor?

L.

Rajkumari
Enviado por Rajkumari em 28/08/2020
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