A Costela de Adão

(Ouve ainda esta noite mais um pouco? Tanta noite. Vamos aos trezentos e sessenta e cinco. Lembras o que era? Se esqueceste, eu não. )

Meias palavras. Palavras sob tanto. Admiro a luz amarelada que cria uma certa sombra. Admiro a prosa poética porque não quero ter medidas. Meu desprezo a quem se nega a ir ao fundo.

Aqui esta teu nome sobre a escrivaninha, a caligrafia. Está borrando aos poucos. O conteudo não é admirável. Às vezes parece-me patético. Às vezes pareço-me patética. Às vezes pareço-me exatamente com o que deveria. Às vezes parece-se exatamente. Outras sinto vergonha por ti. Que és apenas um desdobramento de mim. Como se fora eu Adão. E tu costela. Desprezo tua falta de.

Meias palavras. Quando admiro é a mim mesma. Prolongamento. Como aquele olhar cruzado mais cedo, ao longe. Como o mesmo sorriso. Simbiose. Talvez tenha sido proteção anti-simbiótica de algum deus! (Que imagine se permitissem!). Como assistente de Deus, construi à minha imagem e semelhança. Ou teria sido construída? A teoria de Platão teria seu sentido. Mas eu a metade que levou a memória.

(Daqui a pouco estaremos sentados num qualquer corredor escuro. Brincando de sermos qualquer coisa. Sendo um ponto mais patéticos, um ponto mais metades. Parece que nem precisa ser dito. Tudo paira por ai. Você percebe no ar? Agora é o momento em que dizes...Em que fazes qualquer coisa repetida. Em que eu sorrio um pouquinho. Sempre como se estivesse prestes a chegar à praia após nadar quilometros. Como ontem, como hoje, como desde sempre. Como mais cedo, prolongamento de sonho. Nem pensava que verias. Imã. Por que será que ainda...Um ou outro ponto. Corte sagital e longitudinal. Nasceste por brotamento de mim.)

Elle Henriques
Enviado por Elle Henriques em 23/10/2007
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