Meeks

Seus dedos deslizaram em padrões harmônicos pelas cordas; cintilou uma melodia familiar pela vastidão dos arredores rústicos. Mediante nenhuma alma ouvinte, perante nenhum protesto do silêncio.

Evidente de desvanecida sobriedade, caminhando enfermo e entorpecido pela penumbra de sigilos sobrecarregados e passos desequilibrados pela incerteza de sua própria confidência. Era uma libertação das correntes urbanas e hesitações premeditadas em instintos de falácia humanidade.

Pois ele sabe que não será nada menos que uma instância camuflada entre a tragédia de mil outras. Ele sabe que sua essência não será nada mais que uma fotografia brevemente recordada, preludiar de um esquecimento diluviado sobre o alicerce de um mundo deixado às ruínas de tempo imparável.

Ainda desejando que fosse diferente; que a ânsia florescente em seu corpo fosse expurgada como um mero pecado lavado pelas correntezas de águas sagradas. Ele sabe que divindade é um conceito subjetivo, proporcional à cegueira única de cada ignorância aperfeiçoada.

Adiante o crepúsculo tintado com tons escarlate e linhas esverdeadas no fim do vislumbre. A brisa percorrendo e desencadeando leve moção na grama acinzentada e folhas murchas desprendidas. Ele sentia um chamado claro e iminente.

Mais profundamente entre os destroços da proximidade e vestígios de uma natureza definhando em lenta mortalidade; ele a viu.

Ele levantou seus olhos,

Atiçou lágrimas clandestinas,

Tentou conter seus lábios trêmulos

E rendeu as forças de seus joelhos.

Em sua frente estava um fragmento de atordoamento. Separada da coletividade, singular em sua posição desacompanhada e dolorosamente resistente; uma árvore de galhos despedaçados, rachaduras em sua madeira como rugas e cicatrizes expondo uma história sem palavras, banhada pela palidez do Sol em seu deplorável estado de decomposição solitária.

Ele cobriu seu rosto com suas mãos, reprimiu os gritos, abafou o choro que clamava pela maior intensidade que pudesse ter e a menor possível censura sobre sua vergonha. O menino murmurava em sua fraqueza, em explícito choque em sua pele descolorida. Ficou horas preso na estática esculpida em receio de deslocar-se para fora de seu olhar, para fora do momento.

Sua frágil imagem violentada por miríades de desavenças, elementos de um caos irremediável e loucura ferindo intimamente o molde de uma esvaída inocência; longe de reverter o estrago, improvável de enxergar distintamente a realidade.

Ele recompôs sua débil resistência,

Divagou vagarosamente de volta ao seu lar,

Do infinito de palavras escolheu as mais fidedignas

Para escrever linhas e linhas retratando o encontro

Com seu próprio reflexo.

Daniel Yukon
Enviado por Daniel Yukon em 09/09/2020
Código do texto: T7059024
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