Catastrófico universo

Descubro-me aflito pelo encanto; uma valsa de milhões de receios antigos alcançando novamente a essência de minha aurora.

Enquanto meu resplandecer é calmo, paciente e de vacante propósito por entre camadas e mais camadas de defeitos evidentes aos meus olhos que observam meu todo através dos espelhos de passadas estações.

Almejo mais que um triunfo por este lamento; quero resgatar a confiança de meu desabrigado âmago com promessas ainda mais verdadeiras que as anteriores.

Mas sei o limite de minhas mentiras; sei até onde sou capaz de desfragmentar a realidade a qual sou ingrato cortejado por sua beleza incompreensível além de humores extraviados; além de versos que tentam projetar a perfeição de suas metáforas.

Não é preciso me recordar que fui ofuscado pela espontaneidade de minha loucura; que pensei em jogar tudo fora por alguns embaços e linhas tortas sempre presentes na explicitude de meu reflexo.

Pois afinal, se nada restar de uma pessoa, quem irá tecer a poesia de amanhãs nunca presenciados por seu próprio senso de contundente arbítrio?

Não irei tentar negar que há uma hesitação iminente em minhas palavras, que não seguro em minhas mãos a certeza de que estou corretamente mapeando a constelação dos meus pensamentos, minhas angústias e minhas lágrimas dedicadas à magnitude de concepções efêmeras.

Não pintarei em novas cores minha imagem despojada pelas páginas de uma confissão sem restrições ou censuras; não irei reescrever-me como um rascunho desprovido de inspiração em seu molde.

Estou à deriva do meu próprio desamparado comando; indo pelos caminhos mais ambíguos que se apresentam como opções restantes à minha jornada de titubeados passos.

Apenas a letargia de sonhos entorpecidos à sutil violência da realidade é capaz de se alastrar por tantos vales e bandas de futuros desertos inabitáveis.

Eu relevei as considerações sobre o conceito de mim; estabeleci uma pausa necessária a tudo e todos que esculpem em mim meu sorriso ensaiado em brando deleite.

Pois a curta ausência de alguém sempre revelará seu verdadeiro valor, mais que uma eterna presença inconsequente de vacilos recorrentes. E por fim, tenha absoluta convicção que a mudança é um preço a ser pago, e algo a ser pago ao preço de desejar alinhar em ordem alfabética todas as estrelas de seu universo catastrófico.