Cabeça
Quando olhas de manhã para o espelho
tenta nem te lembrar daquele pequeno filme
do tesão e do sonho que amotinou
da viagem e da fronteira enegrecida
tudo horrores sem dor que te afligiram.
Quando te agigantas à janela
com um frio de gelar ossos e os moços
na esquadra e as viagens sempre adiadas
te fazem lembrar a importância que tens
pensas num desejo e amenizas a angustiada pequenez.
Quando a cabeça quase que explode de razão
e não descansas para que o corpo se amedronte
passas os dias em lamentos e fúrias pequenas
desertos de ideias e gonorreias estúpidas
algo mais duro que a esquizofrénica cabeça.
E o desejo de esventrar esse passado sem cor
num alumiado momento sem distinguir o sabor
apenas levantas a cabeça na desgraça do não ter
para que os euros ao acabar e desalinhar
o desejo de apenas o cabelo esvoaçar
o cérebro desgastado de nada apanhar ar
o corpo menear-se à falta de um pouco de sexo
o cú duro de tanto estares sentado
e afinal tudo são cantigas do mesmo rosário
algumas remixes bem trabalhadas
apenas para te desviar a atenção.
Quando tudo se torna assim claro
e finalmente sentes que não cometeste nenhum crime
e que alguns poemas até são engraçados
olhas para as nuvens que prometem dilúvio
e sorris perante a catástrofe
afinal estás sempre a ouvir falar de crise
de secas e pessoas que não te entendem
de pequenos nadas que sempre fazem a diferença
e até almoças na casa de um marroquino
e mal vês a cabeça da mulher
e antes de ires dormir ainda brincas um pouco com o miúdo!
Tortosa, Catalunha, Espanha, 1/6/2008