Cabeça

Quando olhas de manhã para o espelho

tenta nem te lembrar daquele pequeno filme

do tesão e do sonho que amotinou

da viagem e da fronteira enegrecida

tudo horrores sem dor que te afligiram.

Quando te agigantas à janela

com um frio de gelar ossos e os moços

na esquadra e as viagens sempre adiadas

te fazem lembrar a importância que tens

pensas num desejo e amenizas a angustiada pequenez.

Quando a cabeça quase que explode de razão

e não descansas para que o corpo se amedronte

passas os dias em lamentos e fúrias pequenas

desertos de ideias e gonorreias estúpidas

algo mais duro que a esquizofrénica cabeça.

E o desejo de esventrar esse passado sem cor

num alumiado momento sem distinguir o sabor

apenas levantas a cabeça na desgraça do não ter

para que os euros ao acabar e desalinhar

o desejo de apenas o cabelo esvoaçar

o cérebro desgastado de nada apanhar ar

o corpo menear-se à falta de um pouco de sexo

o cú duro de tanto estares sentado

e afinal tudo são cantigas do mesmo rosário

algumas remixes bem trabalhadas

apenas para te desviar a atenção.

Quando tudo se torna assim claro

e finalmente sentes que não cometeste nenhum crime

e que alguns poemas até são engraçados

olhas para as nuvens que prometem dilúvio

e sorris perante a catástrofe

afinal estás sempre a ouvir falar de crise

de secas e pessoas que não te entendem

de pequenos nadas que sempre fazem a diferença

e até almoças na casa de um marroquino

e mal vês a cabeça da mulher

e antes de ires dormir ainda brincas um pouco com o miúdo!

Tortosa, Catalunha, Espanha, 1/6/2008

Manuel Marques
Enviado por Manuel Marques em 05/10/2020
Código do texto: T7080338
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