O momento em que te segurei

Deixamos desavenças de lado, escolhemos nossas próprias condições e tecemos segundos ao ritmo da percepção adotada.

Teus dedos estavam frios, colidiram com a cálida temperatura do meu rosto que esboçava expressões em perfeita fluência na linguagem do silêncio.

Era com ternura que andávamos pelos corredores, relembramos em boa fé os traços erguidos em pedestais de inigualável adoração ao que éramos no sigilo de toda a realidade.

Sobre teu olhar tracejei uma inteira concepção de poesias, destinos narrados numa sucinta imaginação do espaço e tempo, ápice de uma humanidade projetada em versos de uma calma concreticidade.

E fortalecemos a distância contra tudo o que cogitasse nos alcançar. Submergimos pelas marés de uma incógnita ambiguidade, desfrutamos das ondas e cintilamos esperança na promessa de encontrarmos uma terra firme no fim da turbulência.

Na erma feição de tua irremediável incerteza apliquei as soluções que pensei ao teu cuidado, mas mentiras bem ditas são confortos que fazem o prelúdio de uma derradeira confissão. São nestas circunstâncias que imensurável é o poder e a catástrofe de palavras sempre evitadas.

Na tarde descomprometida, nos campos desertos e decisões alastradas por um infinito em expansão de probabilidades. Descrevemos em singular interpretação o significado das metáforas que nos cercam por incontáveis situações críticas.

O crepúsculo refletia cores favoritas numa riqueza de tonalidades clandestinas. As ruas estavam vazias. A ausência de coisas ditas acentuou a ânsia de qualquer coisa a ser dita. A angústia transbordou minhas veias. Quis chorar até o medo passar, até eu ser despertado pela luz de um novo dia longe do agora.

A intensidade da brisa desatou teus cabelos, balançou tuas vestes e trouxe a mais perfeita afinação ao momento. Segurei-te como se fosse o último segundo da existência; abracei-te como se eu desejasse contar muito mais que todas as palavras do mundo são capazes; vi-te numa fragilidade penosa e mesmerizante sobre os fragmentos de adorno que compuseram os minutos daquela conclusão. Sabíamos em subliminar compreensão o que viria após aquilo.

No sustento do meu equilíbrio desamparado, revisito este pedaço de memória inconstantemente recordada. Velejo em sonhos que me levam de volta ao lugar o qual almejo estabelecer minha pertença permanente em sua segurança e familiaridade; de volta ao momento em que te segurei, e disse enfim e por fim o quanto eu te amo.

Daniel Yukon
Enviado por Daniel Yukon em 05/10/2020
Código do texto: T7080365
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