VOCÊ, FRACASSADO

Você acorda.

Lá pelo meio dia se dá conta de que não era alí que gostaria de estar. Mas você é mediano, comum, não pode mudar tudo. Não pode escapar de ser medíocre e convive com a derrota porque é pequeno, flácido e preguiçoso.

Costumeiramente, sua presença é um estorvo. E não gasta um minuto a mais nos espaços, quando termina sua serventia.

Sua voz se acostumou a ser mínima, desinteressante. Mas seduziu alguém médio, cafona, e com isso segue a vida. Não se mata, porque não tem estômago. Tem, no lugar, pequenos poderes. Que você guarda para quando for grande, mas nunca será.

Intensidade apenas quando se tira o filtro do cigarro, num arroubo de ousadia, típica dos burgueses em miniatura. Uma masturbação sonolenta, feita embaixo dos cobertores de promoção, onde você adormecerá.

Você acorda. E a repetição é extenuante , sem trilha sonora e sem um sexo que machuque suas costas. Sem algum beijo de amor pulsante, nem uma crise de enxaqueca por conta do vinho barato. Não houve nada de instigante que justificasse ir até o trabalho, e as engrenagens engolirem seu orgulho. Você aceita. PorquE é fraco, precisa de estabilidade, precisa se reproduzir com responsabilidade. Você é um câncer.

Você acorda. Mas nem precisaria. Ao meio dia, tudo estará do mesmo jeito. Apático. Mesmo as cores vivas, viram tons acinzentados. Você aceita.

Você acorda, interpreta tudo de forma errada, porque você é um cidadão exemplar, feito de boletos e impulsos sexuais sujos. Onde a tela substitui cavidades quentes, e você goza, com gosto de desinfetante de banheiro de rodoviária.

Foi-se o tempo em que sonhar deixava o mundo menos árido. Agora é tudo deserto de pensamentos deixados de lado.

Você acorda. Antes não tivesse acordado.