ESCRITO 25
Hoje eu estou em casa lendo um livro de memórias. Livro marcado pelo tempo. Nada é tão absoluto como agora. Lá fora o sol está lindo. Céu azul. Sem nuvens. Aqui dentro o vazio. Somente eu. Acordei com vontade de rever amigos. Ir a praia. Ver. Apenas ver. O quê, não importa. Ontem bebi um vinho. Chorei ouvindo música. E o livro da realidade se confunde com o livro de memórias que estou lendo. Mesmo compasso. Cheio de cores. Nomes. Versos. Lidos e perdidos no subconsciente de meu ser. O teu ser. Que se funde ao lirismo de minha memória. Que é curta. Sobretudo amarga. Triste. Vejo flores em você. Mas nunca o riso em mim. E tudo que é belo. Está lá. No fundo da lembrança. Escrita em outro livro chamado passado. O café quente. O cigarro aceso. Tudo em mim queima com a falta que me faz você. Angústia. Solidão que é fera e também devora. Ouço a voz. Leio as palavras. Tudo em silêncio. Desejo. De saber quem chegou. Quem partiu. Nasceu ou morreu. Num ritmo descompassado. Acompanho meu coração. Que pulsa. Salientemente. Ao querer rever amigos. E longe. Lá de longe. Conto todas as estrelas do mundo. Como quem come versos. Poemas dilacerados. Sem vida. Sem memória. Esquecido num banco qualquer de praça. Numa tarde fria. Vazia. De você. De mim. de tudo. Quem sabe de nós? O tempo. A memória.