O labirinto de Maria
Rogando ao outro
que faça parar,
as escavações
e túneis
não cessam.
Cabelos longos,
milhares de fios escuros,
encaracolados,
bordam o delírio.
Ombros pontiagudos,
postura em lâmina,
rosto-nada,
martela o piso
em curto-circuito.
Pele pálida,
se descama,
inflamável.
A noite questiona -
“o que existe no breu do teto?”
Doença que reluz,
igual trincheira
e suas fagulhas de morte.
A máquina celibatária
em combustão,
encara,
o precipício das luzes.
Paredes brancas
refletem borrões coloridos
do televisor sem expectativa.
Fósforo empunhado,
embaixo dos degraus,
uma vela
tremeluz no vazio do espelho.
Ela adora algo,
feito de ossos,
composto,
no silêncio ritual.
O raiar alardeou,
ao som de celulares,
a decomposição da madrugada.
No horizonte,
um novo amanhã,
claro,
eclodiu o labirinto.
Através do sono
dela,
que estava à contragosto,
longe do sonho,
acordada,
mas na inocência
de quem está dormindo.
Daniel César - Natal, 25/11/2020.