APEGO OU GRATIDÃO?

APEGO OU GRATIDÃO?

Olho para o telhado alto sobre peças largas e robustas, num formato de leque, vejo a porta grande e extensa de treliças de madeira da varanda, a grade do muro após o jardim, as luzes da rua e reflito.

Tudo foi feito com muito sacrifício, carinho, desenhado, planejado, ao tempo em que a família também era construída.

Foram muitos anos sob um teto que parecia já reservado para todos nós, mesmo antes de nos reunirmos.

Nele foram vividos muitos momentos tranquilos e outros bastante difíceis.

Os filhos cresceram, criaram asas, seguiram novos rumos...

A família mudou toda a sua estrutura, mas a vida continua.

Após todo esforço para construção da família e do lar onde nos abrigarmos, de repente parece não fazer mais sentido continuar em um espaço tão amplo e tão vazio de pessoas, de vozes familiares, de rotinas costumeiras, de aconchego natural.

Quais as justificativas para continuar cultivando ausências em um local onde só as lembranças, impregnadas em todos os cantos, formam uma egrégora nem sempre positiva?

Gratidão ou apego impedem decidir?

Os dois sentimentos não se traduzem em algo que possa ser calculado monetariamente, mas em valores afetivos mesmo sem muita razoabilidade.

Faz-se necessária uma ponderação consciente.

Deve haver fortes e boas motivações para dar as costas a este ambiente, seguir outra vertente e encontrar outro teto que ofereça a sensação de acolhimento que coincida com a paz interior já conquistada.

Dalva da Trindade S Oliveira

(Dalva Trindade)

30.11.2020