Para meu amigo, Pablo Neruda.

"Y el verso cae al alma como al pasto el rócio" (Pablo Neruda)

Deito-me entre a brisa e a enchente dos teus olhos,

Escoro-me na parede incandescente de tua pele;

Sou um grão que compõe, trágico, a beleza imensa da tua praia.

Amo-te por entre as linhas da minha alma,

Em silêncio de ternura, quieto como a terra.

O céu é cinza e acaricia levemente o meu rosto,

E aquela fome de vida,

Aquele peso do mundo

Sai de mim. Estou liberto,

Porque amo.

O amor é a essência da libertação.

Toco a tinta que colore o céu e os teus olhos;

Tinta que pinta a eternidade e o coração das pessoas

- Não que essas sejam coisas diferentes -

Sinto a textura cheirosa da tinta,

A formosura intrínseca de existir.

Só existo, aqui, porque te amo.

O amor é condição da existência:

O que é a vida, senão uma comoção eterna

E finda?

Um pequeno pássaro pia em seu peito

E se alimenta das dores ilusórias da vida.

Um pequeno homem cresce em meio a poeira do mundo

E escreve, na areia, um soneto mudo.

E eu, que já li os versos mais tristes desta noite,

Nunca senti, no corpo, dor tão grande

Quanto a de ter te visto, ao longe.

De um poeta que, felizmente, esqueceu de rimar,

Pedro Lino.