A SOMBRA DE UMA TORMENTA

Hoje, a DOR conversou tanto comigo, levando-me a descobrir que nosso casamento assemelha-se àquelas UNIÕES TÓXICAS com requinte de perversidade. No início, como LOBO VESTIDO DE CORDEIRO, a sujeira é tão imperceptível que, ao invés de jogar fora, joga-se para baixo do tapete. Talvez por ser mais rápido, mais fácil, mais confortável ao nosso cansaço e aos olhos externos. Dando a sensação de que fora encontrada a solução prazerosa que faltava para nos completar, para suavizar ou acabar com a raiz de todos os problemas. Nos sentamos, naquela sala confortável e degustamos deliciosamente as comidinhas saborosas, os lanchinhos, os chazinhos, as sopinhas tudo tão perfeitinho que nos remete as historinhas de príncipes e princesas. No entanto, certos analgésicos apenas mascaram todo o VENENO que está sendo injetado em doses homeopáticas noS corpoS. Acredita-se que o ANALGÉSICO é a solução de todos os males. Dessa forma, do início ao início, VICIA-SE! Diante das dores, VICIO-ME! Solução ILUSÓRIA: Alta Dosagem Analgésica! “Nada nem ninguém é melhor ou sabe perfeitamente o que sentimos”. Cegamente, passa-se a acreditar que o MEU analgésico é a única coisa que pode promover a desejada SAÚDE, apagando da memória todas as DoReS antes experimentadas, afastando aqueles que não “querem” a minha “sAúDe”, que nos sugerem outras possibilidades ou que apontam falhas no atual medicamento. Então, isolo-me protegida pela FALSA CURA e afasto tudo que poderia ameaçar a tão sonhada cUrA da Alma, Corpo e Mente. Ao mascarar a causa de tudo que DÓI, do início ao meão, potencializa-se a VISÃO DISTORCIDA do AMOR QUE CURA. No processo, ainda dopada começo a perceber que a força outrora curativa do analgésico parece não está mais sensível nem aliviar a dor; que todo o investimento farmacêutico foram em vão (talvez dinheiro jogado no ralo); que a eficácia do poder curativo não funciona mais em mim por não ser merecedora de cura, insignificante, indigna, louca. Abato-me. Deprimo-me. Desespero-me. Suplico, inutilmente, por um alivio, por outra dosagem, por outro medicamento que alimente minha ilusão, mas nada ameniza a dor e a sensação de impotência. Desesperada, embriagada, paralisada alimento a esperança de que encontrarei um outro analgésico que me seduza como no início. De repente, adormeço e a dOr aquieta-se. De repente, acordo e a DOR torna-se uma TORMENTA maior. Até nos sonhos a dor atormenta! A resistência a dor vai se esvaindo e o analgésico ACABA COM A ESPERANÇA DE MINHA CURA. O analgésico a todo tempo apenas foi LESIVO, CORROSIVO, ABUSIVO. Um típico NARCISISTA PERVERSO, sente-se completo ao destruir fatalmente todas as células vivas. Não pretendo diminuir a eficácia de muitos medicamentos, mas levar a reflexão de como nos deixamos enganar com a falsa ilusão de que existe uma fórmula mágica para curar nossas dores. Assim como há tantos medicamentos no mercado assegurando ser a solução completa para todos os seus males, há pessoas extremamente abusivas que se colocam como a solução de nossas dores. Esta analogia nasceu no dia em que deitei e acordei com dor, quem padece com os sintomas da ENDOMETRIOSE PROFUNDA sabe do que falo. Recordei de quando tudo começou sorrateiramente, remédios para amenizar as cólicas, exames “sem alteração”, queixas que não eram compatíveis com os resultados. Suas dores são psicossomáticas! Quantas vezes chorei e gritei: NÃO AGUENTO MAIS ESTA DOR! Quantas faltas no trabalho e em aniversários por não aguentar levantar da cama. As pernas não obedeciam! Um único analgésico não fazia efeito, dois, três, quatro. Resultado: uma histerectomia (sem cura); com menos de um ano, retirada de trompas e cistos ovarianos (sem cura); com uma semana depois, dores no cóccix que não deixam esquecer que o útero continua, que as trompas continuam, que os cistos continuam, que o intestino e a bexiga não vão tão bem, que o rim tem novos amiguinhos, além de alguns comentários maldosos. Nos sentimos um nada! Respiro, choro e agora tento ACOLHER com AMOR questionando o quê isso tudo quer me dizer? Às vezes penso se tivesse escutado minha intuição, tivesse me amado mais, tivesse me respeitado mais, tivesse sido os melhores pais do mundo para mim mesma, tivesse aprendido a cuidar de mim (alimentação, meditação, exercícios, noites bem dormidas) e não ter depositado tanta confiança em “analgésicos encantados” ou ficado confortável diante de certos diagnósticos, estaria com o mesmo nível de DOR? Contudo, fica a lição para com todo o tipo de perversidade: escolha SER PARA SI a melhor CUIDADORA.