CONTINGÊNCIA E PESSIMISMO NÃO SE TOCAM

Situado num tempo de estresse e de inclinação ao erro e ao ato falho, encontro-me em condições análogas tanto a um indigente paquistanês de hoje quanto a um mecenas do Quattrocento. Também não sou um desgraçado por nascer entre dois tempos e mundos que se desmancham ou que não se formaram ainda, respectivamente. Não vivo mais. Não perco nada, não me arrependo. Pertenço a um limite que não pode ser transposto porque o limite é o limite, por assim dizer, e se pudesse ser transporto haveria apenas uma coisa do outro lado – o nada. Sempre houve e haverá vontade-para-a-transcendência, aliada à sempiterna impotência de fazê-lo. O certo é ser uma exceção e viver este lindo Evangelho! Não existe cansaço acumulado. Tudo vale a pena, no fundo, no fundo. Além disso, o ser humano inventaria os problemas no caso de que não se os houvesse. Esta é a arte e a verdade absolutas do momento presente. Até o próximo rodopio... Se há qualidade na quantidade é essa das “vitórias sucessivas” contra si mesmo, quando me sinto o melhor de todos os meus tempos e efetuo um registro – um querer-cristalizar. Águas num canal.

Rafael Cila Aguiar
Enviado por Rafael Cila Aguiar em 11/12/2020
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