Silente, o piano
Silente, o piano parece tentar expulsar saudades amarelecidas sobre as teclas. Tantas canções e nenhuma se deixa dedilhar, quando a madrugada festeja a solidão nos cantos da sala e da alma. Nas paredes os quadros sustentam a imobilidade da arte feita em vários atos. Uma pincelada primária namora a última que dá mais vida à pintura e a finaliza na completude do imaginar. O assoalho aperta tábuas e de alguma forma lamenta a feiura e falta de comodidade do chão esburacado abaixo. Mesmo assim se orgulha de existir, embaçando feiuras. Os tapetes o decoram sobre pena de sofrerem com o peso dos sapatos sujos. Toda matéria é mesmo sobreposta por outras.
As coisas exibem vida, assim como as lembranças já foram vidas em tantas cores, toques, sabores e cheiros. Líricas são as nostalgias, quando de luares acendem os céus dos desejos novamente. Vida é letra debruçada na janela das inspirações e das aspirações. Em gritos ou caladas, as emoções desfilam pelas consequências de tudo. O tempo é viajor sem tempo, porque desconhece destinos. Apenas passa e sem saudações deixa marcas em tudo. Tem a estranha mania de roubar vivacidade.
Silente, o piano envelhecendo.