Por um instante

A hora passa e eu estou aqui deitada, sozinha.

Não sei se o mundo me esqueceu ou eu esqueci do mundo.

Tudo que sei é que hoje não tive coragem de levantar-me da cama; meu ser parece cansado de tudo que acontece lá fora, então me deixo ficar aqui no meu mundinho indestrutível, como que arquitetando uma nova forma de encarar a vida.

Se o mundo não muda, talvez eu possa encontrar uma nova forma de vê-lo, talvez eu possa mudar pelo menos a mim mesma. Mas não penso no mundo, não penso em nada... só me deixo ficar aqui. A mente vagueia, vagueia, mas não se detém em lugar algum. Acho que estou doente. Que doença seria essa? Nada dói em meu corpo; é como se eu deixasse de existir e o mundo lá fora tivesse em recesso... tudo parece parado, se preparando pra recomeçar.

Só você vem de vez em quando na cabeça e tenta ficar, não quer ir embora de forma alguma, mas você já foi, o meu lado está vazio, povoa em mim uma tristeza ferina e a contagem regressiva para o próximo encontro recomeçou.

Tudo parece recomeçar e nada muda.

A hora continua passando... mas não quero sair daqui, quero continuar pensando que as coisas lá fora não estão passando, que quando levanta-me o mundo não será mais o mesmo... como que num passe de mágica.

Mas tudo lá fora me chama...

O dever, a responsabilidade, a necessidade... agora tudo dói...

Não posso ficar aqui e fingir que não há uma voz gritando, chamando-me à vida.

A lucidez retorna-me e me encontra sem força alguma para ir em frente. Mas o mundo não perdoa, ele é veloz e exige minha presença, reclama minha ausência e negligência... E continua o mesmo apesar do meu devaneio.

Se pelo menos você não tivesse ido...

Virginia Santana
Enviado por Virginia Santana em 29/10/2007
Reeditado em 05/02/2020
Código do texto: T714734
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