Por um instante
A hora passa e eu estou aqui deitada, sozinha.
Não sei se o mundo me esqueceu ou eu esqueci do mundo.
Tudo que sei é que hoje não tive coragem de levantar-me da cama; meu ser parece cansado de tudo que acontece lá fora, então me deixo ficar aqui no meu mundinho indestrutível, como que arquitetando uma nova forma de encarar a vida.
Se o mundo não muda, talvez eu possa encontrar uma nova forma de vê-lo, talvez eu possa mudar pelo menos a mim mesma. Mas não penso no mundo, não penso em nada... só me deixo ficar aqui. A mente vagueia, vagueia, mas não se detém em lugar algum. Acho que estou doente. Que doença seria essa? Nada dói em meu corpo; é como se eu deixasse de existir e o mundo lá fora tivesse em recesso... tudo parece parado, se preparando pra recomeçar.
Só você vem de vez em quando na cabeça e tenta ficar, não quer ir embora de forma alguma, mas você já foi, o meu lado está vazio, povoa em mim uma tristeza ferina e a contagem regressiva para o próximo encontro recomeçou.
Tudo parece recomeçar e nada muda.
A hora continua passando... mas não quero sair daqui, quero continuar pensando que as coisas lá fora não estão passando, que quando levanta-me o mundo não será mais o mesmo... como que num passe de mágica.
Mas tudo lá fora me chama...
O dever, a responsabilidade, a necessidade... agora tudo dói...
Não posso ficar aqui e fingir que não há uma voz gritando, chamando-me à vida.
A lucidez retorna-me e me encontra sem força alguma para ir em frente. Mas o mundo não perdoa, ele é veloz e exige minha presença, reclama minha ausência e negligência... E continua o mesmo apesar do meu devaneio.
Se pelo menos você não tivesse ido...