Chama ainda acesa

Sinto nesse silêncio

Minha voz que geme

Que grita, nessas horas

Sombrias, sinto-me perder

Perco-me de vista.

Apenas ouço bem aqui

em algum canto esquecido de mim

Um estrondo

No corpo frio, tomado por vazios

Sinto uma chama queimar

Sinto a carne pulsar

Mas não consigo voltar.

Fui longe demais

Ultrapassei limites

Fui além de fronteiras

Num caminho de incertezas.

Voei inocente, permiti o querer

que não sabe esperar

Quebrei regras, do certo ou errado

Aceitei os riscos, ignorei os avisos

Cai tantas vezes, levantei-me sempre

que foi preciso

Depois de tudo isso,

Caí mais fundo, depois de ir além

Fui longe demais, calei canções

Calei os versos que pincelavam o caminhar

Um réquiem aos ouvidos, sufoca o grito

Doloroso sentir, vejo-me sucumbir.

Não consigo voltar, sinto o corpo

Que se debate, que mesmo dormente

Chama-me a realidade

Apenas vejo uma densa névoa

Cobrir a única chance de novamente encontrar quem eu sou

Que repetidamente ouço minha voz já rouca que clama por redenção,

Essa chama que ainda aquece

Esse corpo já inerte.

Que tenta salvar essa minha alma aflita,

A puxar-me a superfície desse abismo que tenta engulir o que resta de mim.

Bem distante de mim, ainda ruje uma centelha, uma pequena parte esquecida

Que tenta extirpar a dor

Provocada pelas feridas

Uma parte agora frágil

Mas que ainda respira

Uma parte que clama pela vida

Nesse meu grito mudo

Que toma-me pela mão

Uma pequena chama na escuridão

Ainda ouço a voz ecoar

Do meu valente coração.