Quê cé qué?

Pelas ruas de pedra ouropretanas

Meu passo de homi simples

Soergue com tanta vergonha

Ao ouvir os gemidos muitos

Lapidados pela história farta.

Que labuta nóis tem todo dia

Sobe ladeira, desce buraco

Enfia nos brio das gema

As esperanças de dias vindouros.

.

Fazê o que se só sei polir o bruto

Em pedra dura perto do rio

E nas horas vagas não sei se rio

Dos desenhos que vendo na igrejinha.

.

Quê cê qué? Nóis semu forte

Lutemo desde o parto

Para que nenhum safado

Raleie cum nóis de mão suja.

.

Cê qué o que? Que me cale?

Não Sinhô! Quem foi que sismô

Que não tenho valô

Se eu luto com suor e louvô?

Eu que tenho no sangue mineiro

Um pouco de Mestre Ataíde prontinho

Pra interagir com Aleijadinho!

.

Então não me calo, porque cê sabe

Falso silêncio inquieto é subserviência

(Sim, aprendi palavra difícil

mesmo parecendo impossível)

Pra um cabra sem eloquência.

.

Como a escravidão

E as doenças da servidão

Fizeram no chão lágrimas

Hoje essa pandemia

Levou nossa alegria

De vender nossa labuta em arte

E a fome que há muito não raliava de nóis

Voltou pro povoado de forma veloz.

.

E cê qué o que?

Gisely Poetry
Enviado por Gisely Poetry em 28/01/2021
Código do texto: T7170525
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.