VENTO QUE LEVA O TEMPO
 
     Da varanda, pela janela vejo. Ele passa sempre alerta, em vários vagões. Em uma espeça fumaça que larga se vai.
Deixa o que todos deixam para quem fica. Deixa o que o futuro sega, que o passado se nega a passar, memória. Neste andamento sem brilho ou luminescente. Fosco ou radioso são destinos. Tem um início e fim, segue assim.
     Na estrada de terra batida, os carros passam ao seu destino, as carroças partem sob a tempestade. Os cavalos se embrenham na mata, ou perfilam na estrada, dia como outro de ontem, talvez como será o amanhã.
    O clima não vai ser como antes, Dona Dália se foi. A artrite não avisa aos vizinhos de fofoca, os netos em polvorosa, se será chuva ou sol.  Tudo estava nas falas de Dona Dália. Que sabia nas dores, os sabores e dissabores do tempo. Sexo dos rebentos. Meninas, se imaculado ou não.
     Seu neto tinha partido, se foi, nas estradas dos campos, para lugar que ninguém imagina, procurar um algo que não temos, não podemos, não compreendemos. Como fazer da vida eterna, Rosangela bela, não permitir que o tempo ande, trazer Dona Dália que foi adiante.
     E o círculo se fecha, quando netos em festa, observam sorrindo, um velho partindo. Em um dia de festa, a testa enrugada, os olhos se fecham, para ver o que não se enxerga. Os vastos campos, gramas verdes, em um mar de paredes.
     Onde está Dora? Há tanto tempo se foi e não falou onde. Onde está Aurora? Que em um fim de tarde quente, não enxergou o poente, foi envolvida no escuro da noite. Onde está Márcia? Que jogando tudo que era possível, quebrou dente do amante aturdido. Numa noite sem despedida, bateu à porta, correu pela rua torta. Onde está Claudia? Onde está Gloria? Onde está Sandra? Cassandra? Rebeca? Maria? Onde? Onde? Aonde?
      Estão nas memórias do tempo que evadia.