A Boca

Ela é perigosa e maldosa,

Muitas vezes traiçoeira

Mas é capaz de ser amorosa,

Dotada de amor verdadeiro.

Ela ofende, ela difama,

Ela mente e dissimula.

São inverdades infames

Daquela que nunca se anula.

Ela ama com ternura

Flexada no coração

Como pode até morder

Lança fogo de dragão

Quando simplesmente fala

É humilde ou arrogante,

Porém desprezada não cala,

Grita alucinadamente.

Ela reza bem contrita

Para uma graça alcançar;

E entre lábios agradecidos

Ajoelha-se ao pé do altar.

Boca ansiosa e aflita,

Quando nervosa traga tudo;

Come, bebe e se agita

Em estado de agonia aguda.

Apedreja com palavras

E sem qualquer pudor

Aquele que a desame

Ou lhe sonegue o amor.

Não tenho culpa, ela jura;

Na mais pura indignação;

Sou mera fiel cumpridora

Do general que é a mente, eu não.

Boca doce, sorrateira,

Aquilo que a desmerece

São as coisas que proclamas

Nunca o que te rodeia.