Tempo de

Chegou o dia em que deixaram de existir retrocessos.

O passado não tem volta, por mais que chame por ele. Acabaram-se as preces e os baús estarão cheios de memórias. Já não posso colocar em mais nada neste espaço entre duas linhas do tempo.

O passado engordou. Encheu-se de histórias e não suporta mais peso.

O futuro flutua, nele voam tantos sonhos que sobrevoam sobre a vida. Só eu é que teimava em viver neste meio tempo, entre o ontem que todos os dias lamento e o amanhã que invento sem saber se ele irá chegar.

Sonhava e lamentava o que tinha e o que desejava de ter, sem ter tempo para viver. Ia sonhando e fazia dessa fantasia a realidade da vida. Vestia-me com essa ilusão, que me faz agora andar por aí nua de sentimentos.

Olhava para trás e espreitava para a frente, sem perceber que tudo acontece sobre a linha em que estou agora mesmo a pisar, o presente que tanto tem para me oferecer.

Chorei lágrimas fora de tempo e joguei fora gargalhadas, ficaram assim por nascer os sorrisos que a vida ainda não desenhou.

É tempo de desistir do passado. Atracar este barco na garagem da minha vida. Resolver as minhas lutas com quem partiu, sem sequer se questionar e continuar em frente sem medo do que possa encontrar.

Há sentimentos que alimentei com as garras do sofrimento e que terão que ficar no passado por vontade própria. Portanto, não lhe voltarei a mexer.

Talvez relembre o cheiro de tudo o que vivi, ou melhor de como sobrevivi. Só que esses sentimentos estão tão cansados quanto eu, e por isso merecem adormecer num sono profundo.

Deixarei que fiquem por lá, nesse tempo fora de prazo, e eu continuarei esta viagem que ainda tenho por fazer, e são tantos quilómetros que ainda tenho por percorrer.

Vou por aí, olhando a paisagem à minha volta, essa que é o presente onde eu não posso ficar ausente.

Juanita Raquel Alves
Enviado por Juanita Raquel Alves em 16/02/2021
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