A garota dentro do vestido azul na tarde de chuva

Você posa no meu pensamento como um arranjo de flores sobre o parapeito da janela de madeira querendo caber no meu poema.

Como eu poderia te pintar garota-flor do vestido azul, letra por letra tal qual um Van Gogh vendo o céu estrelado de Arles?

Pingando tinta por tinta a essência, não somente a beleza?

Quando conhecer a sua alma pintarei seus olhos disse Modigliani a Jeanne, o amor de sua vida.

Mas ele é Modigliani eu sou só parte de uma mesmo poema.

Esses lindos olhos negros... nesta tarde de chuva...

paz tranquila de sombras que se esgueiram no fundo de um bosque,

misteriosas libélulas que brincam à luz diáfana de um luar,

vapores finos de luz que banham mariposas e miríades de insetos fosforescentes,

azul-negro, perfume que vem à noite como beijo de amante,

mistério que sussurra um mundo de fadas logo atrás do arbusto.

Tudo isso é você neste vestido azul, cabelos negros e olhos profundos... E eu nesse poema a delirar!

Você posa no meu pensamento como um arranjo de flores sobre o parapeito da janela de madeira querendo caber no meu poema.

Se um dia quiseres me conhecer é aqui que vais me encontrar. Dentro desse poema é onde se constitui todo o meu bem e minha beleza.

Não será nas exigências da vida, na convivência e nos estereótipos onde me deformo.

Aqui sou eu, aqui sou você, aqui te reconheço para além dos rótulos, para além dos julgamentos, para além do sofrimento cotidianos, para além das noites sem dormir, para além das limitações que limitam seu eu capacitado e potente, verdadeiro e generoso, inteligente e sábio.

Não me encontras nas palavras que profiro aos meus estereótipos: talvez aí encontres ataque, medo, mediocridades de um louco em desespero como o grito de Edvard Munch.

Eu existo, assim como você, é nesse aqui ser de alma e carne de poesia, de arte, de silêncio e humanidade.

Se quiseres me encontrar me procure naquilo que eu não te disse, naquilo que não foi uma agressão.

É no silêncio que eu existo. É no silêncio da tarde em que chovia, naquele dia em que você vestia um vestido azul como um jarro de flores na janela onde te encontrei.

Sérgio Caldeira
Enviado por Sérgio Caldeira em 02/03/2021
Código do texto: T7197018
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