Meu pai

Meu pai, meu mestre

MEU PAI ME ENSINOU GRANDES LIÇÕES

"A felicidade é a aceitação corajosa da vida."

(Erich Fromm)

Um dia eu acordei, olhei para as minhas mãos e vi nelas as mãos de meu pai. Percebi que eu estava me tornando a pessoa que MEU pai fora. Isso me deu uma satisfação interior inigualável. Sabe por que?

MEU PAI ME ENSINOU que gastar tempo com crianças e jovens é investimento, é tornar o tempo eterno. Eternizá-lo nas lembranças e nas lições.

Eu me tornei um artilheiro de peladas graças ao meu pai. Ele era um grande goleiro e desde pequeno ele jogava comigo futebol, como ele tinha talento embaixo das traves, era quase impossível fazer gol em papai. Eu tive de desenvolver habilidades especiais para fazer gol no meu pai. E certamente na hora da diversão essas habilidades me foram úteis. Graças ao meu pai eu não era o último a ser escolhido na pelada com os amigos.

Meu pai me ensinou a acreditar que eu era capaz de quase tudo. Nunca me disse que eu não conseguiria. Nunca me falou para que eu não tentasse. E o melhor de tudo, sempre estava ao meu lado para me amparar se eu falhasse.

Quando eu comecei a andar de bicicleta, a primeira queda que tive foi dentro de uma poça de água. Quando cheguei em casa, não levei uma bronca. Ele apenas me falou para eu tomar banho, e me deixou tranquilamente tentar quantas vezes eu quisesse até conseguir. Isso não fez de mim um teimoso. Fez de mim um vencedor. Nunca contei quantas vitórias eu tive na vida. Apenas nunca me abati completamente diante das derrotas, diante de tantos 'não' que a vida nos dá.

Meu pai me ensinou a nunca lamentar demais as minhas perdas, a nunca ficar chorando pelo que tinha perdido. Ao contrário, o que nós perdíamos, simplesmente dávamos por perdido, e continuávamos. Continuávamos em busca de novas conquistas. Olhávamos para frente. Lembro dele falando do que tinha perdido como se fosse a notícia do dia, simplesmente isso, a notícia do dia, do café da manhã. Quando acabava de dar a informação, levantava e saía.

Quando cresci, nunca contabilizei as perdas. A conta da minha vida sempre dava positiva. O negativo sempre lancei na conta de devedores duvidosos.

Meu pai me ensinou o valor da alegria. A alegria como um modo de vida. O riso sem causa nem motivo. O sorriso amplo e aberto apenas por se estar vivo.

Com o tempo eu entendi porque tanta alegria do meu pai. Ser alegre atrai amigos. Ser alegre impede que as tristezas criem raízes. A alegria é um dom a ser cultivado - cada um do seu próprio jeito. Alguns possuem uma alegria espalhafota, outros a alegria tímida. Alguns gostam da gargalhada alta, outros se contentam com um leve sorriso. O importante ê fazer da alegria uma rotina.

Isso me foi útil em um processo seletivo para dar aula em uma grande Universidade. Mais tarde a minha coordenadora me falou que não me escolheu pelo meu currículo, e sim pelo meu entusiasmo - novamente me lembrei das lições que aprendi do meu pai.

Meu pai me ensinou a amar abertamente as pessoas, sem ficar pensando o que o outro sente. Ele me mostrou que nossa afeição pelos outros não depende do que os outros sentem por nós. Isso pode parecer ingênuo ou um modo muito romântico e imatura de lidar com o nosso afeto. Não é não!

Aprendi a sabedoria de ser dono dos meus sentimentos quando alguns amigos ficaram ofendidos por alguma tolice que vez por outra todos nós dizemos. Percebi que eu tinha uma decisão a tomar: ou sou dono do meu coração por amar as pessoas que eu escolhi, ou deixo que os outros mandem nos meus sentimentos, deixando que eles determinem de quem vou gostar ou não. Decidi que a lição que meu pai me ensinou me faz mais livre e mais feliz. É verdade que fico triste quando alguém desgosta de mim ou que decide que eu não sirvo mais para ser seu amigo. Agora quem decide genuinamente de que quem vou gostar sou eu. Assim, ao longo da vida, tive a feliz oportunidade de resgatar alguns amigos preciosos, que eu nunca me conformei de ter perdido.

Acima de tudo, meu pai me ensinou a mais preciosa lição: de viver A VIDA sem amarras nem correntes, de viver a vida levemente!