Tributo

Há tanto o que dizer que me perco em palavras. Só sei dizer um tributo à quem me roubou de mim. Tão contraditório é isto que sinto! Contente por ter a alma surrupiada! Contente por ter sido assim, arrebatada! Por noites mal dormidas, dias de desalento. E ao mesmo tempo de encanto. O que é ser mãe, senão o sorriso junto ao pranto? Senão a ternura e a hostilidade? De início o afeto é escasso. Depois não cabe no peito. Tão inexplicável que inútil pôr em palavras. Tão contrário em si, é o mesmo sentimento. Camões estava certo. São Paulo aos Coríntios também. Já nem quero nada em troca neste ágape amor. Já não preciso de nada, envolta por tanto amor. É que sou um espelho de alguém que não é simples extensão de mim. Mas me enxergo em seu pequenino olhar, procurando-me, assim. E me encontro neste desencontro desajustado. Nem sempre acerto, afinal. Mas quero mesmo que não lhe atinja nenhum mal. À esta perene unidade de contrários, estarei fadada eternamente. Só que não levo o fado pesado, mas apenas amor puramente. Tão puro, que saíram palavras em demasia. Tão claro, que nem eu acreditaria. É quase um delírio! Mas eu não vivo mais sem você, meu filho.

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 05/04/2021
Código do texto: T7224910
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