Ecoar

E assim ecoa minha voz, sedento do que já perdi.

Ardente da vida que vi viver na mente de outrora,

Viver no sonho de antigamente, viver no dia de ontem.

E assim meu canto eu deixo pra ser alento das gentes.

A falta que me ressente, é falta que não se preenche,

É falta e convivo com ela, e falta e com ela eu prossigo.

E assim, eu vou encontrar lugar onde eu me vigore,

Sorriso perdido nas costas, no caminho que eu já passei,

No tanto que já caminhei, no pranto que sempre chorei.

Um cigano em meus anseios, inconstância é minha bagagem,

Meu roteiro de viagem eu traço ao calor da hora,

Atento a cada momento, e tento assim ser feliz.

No sorriso bobo na fronte, há lugar até pra brilho nos olhos.

Há lugar pra esperança na mente. Há planos a serem cumpridos.

Há vida a ser vivida. Há gente a conhecer.

Decidi não me preocupar, mesmo estando ao cadafalso,

Mesmo ao temporal nefasto. Mesmo à noite ao correr das horas.

Mesmo a obrigação pululando a responsabilidade.

Mesmo eu, sofrido, perdendo.

Na canseira desta lida, na tonteira à mal dormida.

Na zoeira dessa gente, sigo eu com meu farnel de poesia,

Vou eu com minha pouca bagagem, um canto debaixo do braço,

O passo a ser bem-cumprido.

E assim ecoam meus versos, rabeca nordestina em braços de mendigo

Em meio ao paço, e os transeuntes que passam, dedicam moedas

Furadas, dedicam sua pouca atenção. Minha atração é um mendigo

Que faz de sua própria miséria as notas da sua canção.

Há de ser um pouco mais.

Há de querer brilhar a mente.

Há de querer apreensão.

Há de ter mais a ofertar.

Há de ter mais a ganhar.

Há de ter sede de vida.