Coisas e causos

Papai gostava de mato. De sítio e fazenda.

Mamãe, que passou a infância no interior queria nutrir-se da cidade.

Da praia e das ondas.

Estava com passagem marcada para estudar na França quando conheceu papai.

O Jovem bonito dos mil amores, Que desses mil abdicou

Para concentrar-se somente em um.

Bom partido. Profissional de carreira emergente.

Ela, católica de comunhão diária.

Moça pobre interiorana, inocente.

Ele sem convicção. Coração livre de ódios, mas também sem nenhum grande fervor.

Papai, tecia histórias tentando fazer-nos rir ou sonhar – os filhos.

E contava sobre a vez que encontrou um homenzinho

que foi crescendo até ficar do tamanho de um poste.

Sobre quando só faltava um passo para chegar no alto de um morro

mas preferiu voltar correndo para casa...

E

- Eu já fui barnabé – falava papai.

Querendo mostrar que todos nós temos que construir nossos sonhos

e que isso depende de determinação e suor..

Quanta coisa ele queria dizer ao nos repetir: Eu já fui barnabé.

Só hoje compreendo -, Esta fala era sinônimo de dizer:

Façam valer suas vidas.

Mamãe possuía o dom de acalmar.

Qualquer pesadelo, medo ou angústia,

iam embora diante das palavras

confiantes da minha mãe.

Dona das frases que espantavam tristezas

Expulsavam doenças ou males.

Voz de reza, voz das certezas:

Amanhã tudo vai dar certo!