Do vício e a rebeldia
Eu como muito rápido, beber também é sempre de gute-gute. Não fosse isso o bastante ainda o faço com frequência, ingiro rápido e de montão. Se ainda sou magro é porque de certo a natureza deve ter algum afeiçoamento pela minha pessoa, ou ao contrário talvez, pois se não me permite ganhar peso é a meu próprio contra gosto. Há quem me diga que exagero, que não aproveito o alimento, que não o aprecio. Porém discordo. Meu problema é outro, muito maior.
Creio que aprecio sim, e até demais. Tanto que não sou capaz de suportar os pequenos instantes, segundos ou minutos, em que não tenho o sabor daquilo que gosto em minha boca. Assim terríveis são as paixões, e falo aqui de todas elas, de tudo aquilo que é bom e que é belo. Não é péssimo que só temos um pôr do sol por dia? Não é frustrante quando a cerveja se acaba no copo? Não é um nojo quando sentimos saciados e não podemos mais comer? Não é terrível quando o beijo acaba, quando o orgasmo finda, quando se é obrigado a retirar o pau do corpo da mulher desejada?
Maldito seja o fim! Quero mesmo é matar a morte! Quero o prazer pela eternidade! Chafurdar-me no meu vício até encontrar o Todo que sempre fui! É essa a doença do homem, sua incompletude, sua finitude, o fato perverso de não sermos Deus.