Peso das palavras

Sempre amei por palavras

muito mais do que devia

são um perigo as palavras

quando as soltamos, já não há

regresso possível

Ninguém pode não dizer o que já disse

apenas esquecer

como folhas de outono soltas ao vento

E o esquecimento acredite,

é a mais lenta das feridas mortais

espalha-se insidiosamente pelo corpo,

como veneno que mata lentamente

nas palavras mastigadas

e vai cortando a pele

como se um barco à deriva

nos atravessando de madrugada

E de repente acordamos um dia

desprevenidos e completamente

indefesos, porque já esquecemos,

talvez...ou fingimos que esquecemos...

um perigo, as palavras que ficam embargadas,

ocultas no íntimo como se a ferida fora cicatrizada,

Mesmo agora aparentemente

tão tranquilas minhas palavras

neste claro momento em que as deixo em desalinho largadas ao acaso, abstraio todo o peso no alvorecer, sacudindo o pó dos velhos dias sobre os lençóis da cama vazia, cheia de palavras por dizer.